[Museu Soares dos Reis - Porto - Outubro 2024]
[Ílhavo - (Fábrica da Vista Alegre) - Julho2017]
“Sou daquelas almas que as mulheres dizem que amam, e nunca
reconhecem quando encontram, daquelas que, se elas as reconhecessem, mesmo
assim não as reconheceriam.
Sofro a delicadeza dos meus sentimentos com uma atenção
desdenhosa.
Tenho todas as qualidades, pelas quais são admirados os
poetas românticos, mesmo aquela falta dessas qualidades, pela qual se é
realmente poeta romântico.
Encontro-me descrito (em parte) em vários romances como
protagonista de vários enredos; mas o essencial da minha vida, como da minha
alma, é não ser nunca protagonista.”
Bernardo Soares
[Porto - Dezembro 2016]
«Não ter emoções, não ter desejos, não ter vontades,
Mas ser apenas, no ar sensível das coisas
Uma consciência abstracta com asas de pensamento,
Não ser desonesto nem não desonesto, separado ou junto,
Nem igual a outros, nem diferente dos outros,
Vivê-los em outrem, separar-se deles
Como quem, distraído, se esquece de si...»
“Álvaro de Campos”
O Universo não é uma
ideia minha.
A minha ideia do
Universo é que é uma ideia minha.
A noite não anoitece
pelos meus olhos,
A minha ideia da
noite é que anoitece por meus olhos.
Fora de eu pensar e
de haver quaisquer pensamentos
A noite anoitece
concretamente
E o fulgor das
estrelas existe como se tivesse peso.
Alberto Caeiro
[Ermesinde-2013]
Procura a rosa. / Onde ela estiver
estás tu fora / de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça / ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando / nela te vires te reconheças
como diante de uma infância / inicial não embaciada
de nenhuma palavra / e nenhuma lembrança.
Talvez possas então / escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão / e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina
"A Um Jovem Poeta"
Procura a rosa. / Onde ela estiver
estás tu fora / de ti. Procura-a em prosa, pode ser
que em prosa ela floresça / ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando / nela te vires te reconheças
como diante de uma infância / inicial não embaciada
de nenhuma palavra / e nenhuma lembrança.
Talvez possas então / escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão / e passagem para o que não se vê.
Manuel António Pina
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma coisa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
Alberto Caeiro
[Mosteiro de Santa Maria de Seiça - Março 2007]